Allan Shellenk de Abreu Torres | Acadêmico de Psicologia da Faculdade CDL
*Este texto é baseado em um artigo de autoria de Julio Guedes, ao qual participei e que ainda será publicado.
A Psicologia Junguiana, também chamada de Psicologia Analítica ou Profunda, é uma abordagem da psicologia desenvolvida por Carl Gustav Jung, um psiquiatra suíço que foi contemporâneo de Freud. A base desta abordagem entende que a psique humana é formada pela nossa consciência e o inconsciente. Para Jung, o inconsciente possui duas facetas: o inconsciente pessoal formado por nossas experiências, afetos, complexos e demais materiais reprimidos pela mente; a segunda faceta é o inconsciente coletivo. Este inconsciente pode ser descrito como um reservatório universal compartilhado da experiência humana, que vai muito além do indivíduo desde os tempos remotos, ou em uma simplificação didática, uma espécie de memória comum a toda a humanidade, composta por símbolos e padrões chamados de Arquétipos.
Em sua pesquisa Jung descreve que a humanidade é simbólica e desta maneira é como nos relacionamos como o mundo, atribuindo significados através da experiência empírica. A consciência possui um caráter lógico, onde organizamos essas experiências e transmitimos seu significado através da linguagem. Diferente da consciência, o inconsciente é em sua totalidade simbólico. Sua estrutura foge da lógica consciente, onde os símbolos pessoais e universais se comunicam diretamente com inconsciente e os sonhos tem papel fundamental em trazer para a consciência mensagens que se traduzem em um simbolismo que a linguagem consciente é incapaz de compreender.
É no inconsciente coletivo que são encontradas as imagens primordiais da humanidade, chamadas de Arquétipos. Segundo Jung, os Arquétipos são padrões universais que moldam nossa psique, influenciando pensamentos, sentimentos e comportamentos através da cultura. Símbolos como a mãe, o sábio, o herói e o guerreiro possuem representações em todas as civilizações e em todas as eras, com estrutura e significado relativamente inalterado de cultura para cultura ao longo do tempo. Com certeza ao ler esses símbolos automaticamente vieram imagens em sua mente, não é mesmo?
Ao longo da vida, esses Arquétipos se entrelaçam com as experiências pessoais do indivíduo, dando origem aos Complexos Arquetípicos. Eventos marcantes da infância, relações interpessoais significativas e a cultura em que estamos inseridos moldam a forma como esses Arquétipos se manifestam em nossa psique.
Os complexos se manifestam de diversas maneiras em nosso dia a dia, influenciando desde nossas preferências e aversões até nossas relações interpessoais e decisões profissionais. Eles podem se revelar através de Projeções, Transferências, Sonhos e Fantasia, Sintomas Psicológicos e dentre eles a depressão.
A psicologia analítica entende que os fenômenos psíquicos possuem um caráter compensatório, ou seja, sua investigação não busca simplesmente um “porquê”, mas sim um “para que”. Jung uma vez disse que “A depressão é como uma mulher vestida de preto. Se ela aparecer, não a afaste. Convide-a para entrar, ofereça-lhe um assento, trate-a como uma convidada e ouça o que ela tem a dizer”. Sob a ótica da Psicologia Junguiana a depressão é um sintoma de uma dor, medo ou insatisfação em níveis elevados que se manifestou no corpo, pois sua origem está além da consciência.
Mas como os Arquétipos podem ajudar no enfrentamento da depressão? Como vimos os Arquétipos se envolvem com as experiências individuais e pouco a pouco produzem comportamentos e crenças que alteram significativamente nossa vida cotidiana. Muitas vezes nos perguntamos porque estamos agindo ou pensando de forma que não condiz com o que somos. É provável que há um Arquétipo constelado.
A depressão possui fatores físicos, químicos e psicológicos em seu desencadeamento. Hoje conhecemos diversos sintomas e critérios para o diagnóstico da depressão. No campo psicológico a depressão se expressa através do humor deprimido, anedonia, perda ou ganho de peso acentuado, fadiga, agitação, alteração no sono e demais sintomas descritos em manuais e livros.
Diferente do que é visto em redes sociais, um Arquétipo não pode ser ativado de forma consciente, como um botão liga/desliga de uma função no celular. Através da investigação com psicólogo junguiano e autoanálise é possível encontrar o “para que” desses sintomas, o que tem acontecido no mais interior do seu íntimo que precisou ser traduzido em depressão para que fosse observado. Também possível verificar os padrões de comportamento e pensamento ao qual o indivíduo está gravitando, ou seja, agindo muitas vezes sem perceber. A identificação por si só pouco tem a contribuir para a melhora, mas pode auxiliar no primeiro passo do enfrentamento e é aí que entra o papel dos Arquétipos.
Ao projetar-se para um Arquétipo a psique se reorganiza para traçar um novo rumo de comportamento, pensamentos e forma de experienciar a vida. O Arquétipo do Guerreiro é um bom exemplo para tal enfrentamento. O Guerreiro traz a imagem simbólica de força, coragem, fortalecimento, disciplina, espírito inabalável frente as batalhas que hão de vir. O Guerreiro não só luta, mas também planeja, articula, mobiliza seus recursos para o combate, mas além disso ele também se prepara para se defender e se proteger, antecipando qualquer adversidade.
Como já falamos, os símbolos se comunicam diretamente com o inconsciente. A Imago simbólica do Guerreiro é um exemplo poderoso de enfretamento da depressão na modernidade. Traçar uma rota em direção a esses valores simbólicos pode contribuir drasticamente no enfrentamento da depressão. Conhecer os Arquétipos e seu significado simbólico é proporcionar a psique mais recursos para seu fortalecimento.
Se você se identificou com alguns dos sintomas relatados, procure ajuda especializada e não deixe de procurar acompanhamento médico.
ASSOCIAÇÃO PSIQUIÁTRICA AMERICANA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5. ed. rev. Porto Alegre: Artmed, 2022.
JUNG, C. G. A dinâmica do inconsciente. Petrópolis: Editora Vozes, 2013.
JUNG, C. G. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Editora. HarperCollins, 2016.