Profª. Victoria de Vasconcelos Gomes, Psicóloga (11/13777), Mestra e Doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará UFC.
O trabalho é uma atividade importante em nosso cotidiano, tendo em vista que o produto dele (a remuneração) possibilita que tenhamos acesso a outros aspectos fundamentais para nossa existência: alimentação, saúde, educação, lazer, etc.
De modo geral, uma fração considerável da nossa vida dedicamos ao trabalho, “vendemos” parte do nosso tempo de vida em troca do salário, crescimento profissional, projeto de vida, ou qualquer outro aspecto que simbolize o motivo pelo qual nós desempenhamos as atividades laborais. Vale destacar também que alguns tipos de trabalho podem entrar no campo da invisibilidade, como é o caso de parte das trabalhadoras domésticas, que todos os dias atendem as demandas da casa e não há remuneração ou reconhecimento (na maior parte das vezes) diante do papel que desempenham.
Levando em consideração o que já foi dito, podemos pensar o trabalho como algo que pode desencadear sofrimento psíquico aos indivíduos, tendo em vista as relações complexas envolvidas nesse âmbito, tais como aumento das cobranças por produtividade, trabalho precário, assédio moral, dentre outras…
As questões emocionais mais comuns relacionadas ao trabalho são Síndrome de Burnout (também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional), Ansiedade, Depressão e Estresse (o que reflete um pouco os transtornos mentais mais comuns presentes na contemporaneidade). Podemos identificar essas formas de sofrimento psíquico no trabalho a partir da quantidade de atestados médicos por CID F, absenteísmo (ausências no trabalho), presenteísmo (o trabalhador está no ambiente de trabalho, mas não consegue se dedicar às tarefas) ou através do relato do próprio trabalhador ou trabalhadora. Em suma, há um sofrimento na execução da atividade ou até mesmo em pensar no trabalho, em contrapartida há um alívio quando do afastamento desse contexto laboral.
O trabalho pode ser o fator desencadeador do transtorno mental e também o agravante de um transtorno que existia previamente. Tal aspecto caracterizaria o que conhecemos como Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional. De acordo com o Ministério da Saúde, as principais características da Síndrome de Burnout são:
É um distúrbio emocional que tem componentes de exaustão, estresse e esgotamento em decorrência de situações de trabalho desgastantes (excesso de cobranças, competitividade, responsabilidade). Ou seja, a causa principal do transtorno é o trabalho!
Em 2022 a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a reconhecer o Burnout como uma doença ocupacional. O que isso muda para o trabalhador? Torna um pouco mais “fácil” o acesso dessas pessoas a direitos previdenciários e trabalhistas (e a estabilidade no emprego por determinado período tempo).
Existe um dado bem alarmante da OMS no que tange ao Burnout, onde essa síndrome ocupacional atinge cerca de 32 milhões de brasileiros. As profissões que mais apresentam a síndrome são: professores, médicos, bancários, policiais, agentes penitenciários, dentre outras. Vale salientar que o trabalhador ou trabalhadora de qualquer área está suscetível a vivência dessa experiência!
Para prevenir o sofrimento psíquico nas organizações (ou em outros espaços onde existam pessoas exercendo atividades laborais), é preciso proporcionar ambientes de trabalho saudáveis, com segurança psicológica, com atenção às necessidades dos funcionários, com acompanhamento de profissionais que atuem em saúde mental e qualidade de vida. É preciso que se construa uma cultura organizacional que tenha como pauta e ações principais a saúde mental! Uma das formas de construção de saúde mental no ambiente de trabalho é conversar sobre a temática, oportunizando espaços de fala e, especialmente, psicoeducando a gestão acerca da importância de reconhecer o ser humano que está desempenhando a tarefas de trabalho, não olhando somente para os resultados (sejam eles positivos ou negativos).
Valorizar o bem-estar e a de vida dos trabalhadores é investir em uma cultura organizacional comprometida com pessoas e não com números. É compreender que um trabalhador emocionalmente saudável irá desempenhar suas atividades sem um grau sofrimento que comprometa sua saúde física e mental.
As empresas podem adotar algumas medidas preventivas no que corresponde aos transtornos mentais relacionados ao trabalho, a saber:
Há um grande trabalho a ser feito por todos nós: pensar em uma sociedade menos adoecedora! Passamos grande parte do nosso tempo de vida no trabalho e não podemos aceitar que esse ambiente seja um espaço de opressão, sofrimento e adoecimento mental. Precisamos, com urgência, pensar em ações que contemplem pessoas, não só metas e resultados.
Empresas que cuidam de pessoas investem na saúde mental do corpo funcional, pois entendem ser uma ação primordial que antecede seu crescimento e manutenção no mercado.